A idéia deste Post sobre: “Humanos: a normose, a egoesclerose e a cegueira” – surgiu-nos após assistir o filme a Teoria de Tudo; sobre a vida de Stephen Hawking, o grande físico britânico. Em paralelo lemos artigo do prof. Hermógenes de Andrade – um mestre brasileiro com uma vasta obra realizada na prática e dezenas de livros escritos.
Estes dois ilustres personagens, sem dúvidas, sempre estiveram longe de qualquer uma das três síndromes citadas no título do Post, embora o físico tenha sofrido por mais de 50 anos de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e o professor tenha tido limitações físicas no final de sua longa vida de 94 anos – faleceu em 13/03/2015 (… 3 dias antes da publicação deste post).
O que estas duas ricas experiências de vida tem a nos ensinar ? Muito, pois foram dois humanos visionários, muito além dos seus egos e longe da atitude “normal” das pessoas.
OS SERES HUMANOS E A NORMOSE:
Já foi normal duas pessoas se digladiarem até a morte para entreter a multidão. Também já foi normal queimar mulheres na fogueira por bruxaria e fazer pessoas trabalharem sem remuneração com direito a castigos físicos só pela cor da pele. Era normal também humanos se alimentarem de sua própria espécie e casarem sem amor. Já foi normal passar 40 horas da semana fazendo algo que se detesta, mentir para ganhar dinheiro e devastar florestas inteiras em busca de um suposto desenvolvimento – opsss, esta última ação MUITOS ainda pensam ser normal. Afinal, será que ser normal – e achar normais coisas que não deveriam ser – pode ser uma doença? Segundo alguns psicólogos, sim. A doença de ser normal chama-se, segundo eles, normose: um conjunto de hábitos considerados normais pelo consenso social que, na realidade, são patogênicos em graus distintos e nos levam à infelicidade, à doença e à perda de sentido na vida. O conceito foi cunhado quase que simultaneamente pelo psicólogo e antropólogo brasileiro Roberto Crema e pelo filósofo, psicólogo e teólogo francês Jean-Ives Leloup, na década de 1980. Eles vinham trabalhando o tema separadamente até que um terceiro psicólogo, o francês Pierre Weil, se deu conta da coincidência. Perplexo, Weil conectou os dois, e os três juntos organizaram um simpósio sobre o tema em Brasília. Do encontro, nasceu uma parceria e o livro Normose: A patologia da normalidade. Para saber mais vá na Superinteressante / Julho 2013. Sobre o Hermógenes – No documentário “Deus me livre de ser normal”, realizado por Marcelo Buainain, em 2007, Chico Xavier — em cenas de arquivo gravadas antes de sua morte, em 2002 — fala sobre Hermógenes e declara que “a ioga é uma bênção de Deus”. O título do filme é uma referência à doença que mais apavora o mestre iogue, a “normose”. É a doença de ser normal. As pessoas querem se encaixar num padrão — afirma o professor, criticando a correria do mundo moderno pelos padrões de comportamento socialmente aceitos.OS SERES HUMANOS COM EGOESCLEROSE:
Através de seu Blog IgualVoce, o Valdinei Calvento fala que teve contato pela primeira vez com as palavras que o Professor Hermógenes profere através das letras (livros e CDs). De lá pra cá, algum tempo se passou, e vez ou outra eu tomo um pouco de ar lendo os textos do Professor. Perspicaz e iluminado, usa termos como a “Egoesclerose” e a “Normose”, que segundo ele são as doenças que acometem as sociedades do mundo inteiro. O Ego enrijecido torna os seres humanos egoístas e cheios de desculpas para alimentá-lo, daí a Egoesclerose. Os normóticos, os doentes de Normose, somos todos que sofremos da normalidade, tão aprisionados a padrões e regras que não conseguimos mais nos voltar para nosso interior. E, ainda, nas sábias palavras do Professor, por conta disto, acabamos por adiar nossa “volta para casa, nosso encontro com o todo”. A cura ? A “humildação”, renúncia aos padrões impostos e aceitação de que sendo o todo devemos praticar a compaixão.OS SERES HUMANOS E A CEGUEIRA:
No romance Ensaio sobre a Cegueira (1995), de José Saramago, a cegueira descrita é representada através de inúmeras metáforas. Considerando a cegueira como metáfora, ao longo deste romance Saramago tenta explicar como as pessoas vão se tornando cegas no mundo contemporâneo, como inexplicavelmente ocorreu com o primeiro cego, primeira personagem apresentada na narrativa, que cegou quando conduzia o seu automóvel: de repente a realidade tornou-se indiferenciada à sua volta ( o mal branco). Quando o “primeiro cego” chegou ao consultório do oftalmologista para tentar descobrir uma solução para o seu problema de visão, o médico considerou o caso urgente e passou-o à frente dos demais pacientes que aguardavam pela consulta. Porém, a mãe de um menino que aguardava sua vez não se sensibilizou diante da urgência do paciente inesperado e “…protestou que o direito é o direito, e que ela estava em primeiro lugar, e à espera a mais de uma hora. A pressa e insensibilidade desses pacientes diante de um indivíduo com um problema considerado mais urgente pelo médico talvez seja um primeiro indício apresentado pelo narrador de que a cegueira pode ser provocada pelo distanciamento existente entre os indivíduos nas sociedades modernas. Um distanciamento que leva cada um a observar apenas os seus próprios interesses, interesses tais que só serão limitados pelo cálculo da conveniência: “…na verdade, sentencia o narrador deste romance, ainda está por nascer o primeiro ser humano desprovido daquela segunda pele a que chamamos egoísmo, bem mais dura que a outra, que por qualquer coisa sangra”. O egoísmo como cegueira é novamente mencionado quando o transeunte que ajuda o primeiro cego a voltar para casa aproveita-se da ocasião para roubar-lhe o automóvel. No Brasil atual, nas estruturas do legislativo, do executivo e do judiciário a cegueira é profunda. Por exemplo, no auge da crise fiscal e financeira, políticos aumentam seus salários e benefícios. No executivo o Presidente e o partido no poder não percebem as mazelas decorrentes da corrupção e das mentiras. E, no judiciário, só ficam presos os pobres – pois os ladrões de colarinho branco conseguem facilmente habeas-corpus, prisão domiciliar e revogação da pena.- Tagged: Chico Xavier, Egoesclerose, ELA, Ensaio sobre a Cegueira, Hermógenes de Andrade, humanos, Jean-Ives Leloup, José Saramago, normose, Pierre Weil, Roberto Crema, Stephen Hawking
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